Um espaço onde se promete uma análise sobre tudo, mas não se garante a diversão imediata!!!

Tuesday, October 07, 2008

Old Habits Die Hard


Sempre após a tormenta agente se pergunta: Valeu a pena?
Sempre vale, por cada momento vivido, por cada sorriso desperdiçado em bobagens, por cada filme sem fim, pelo por do sol acompanhado, pela viagem cansativa, pelos sonhos trocados. Mais do que tudo isso, agente amadurece, aprende lições, conhece sentimentos, emagrece.
Algumas pessoas cortam o cabelo, outras entram em um curso de arco e flecha, outras assumem uma música como um hino de recomeço. Cada um a sua maneira busca se confortar com a nova realidade que bate a porta, pois afinal todos temos medo da mudança, mais especificamente do incerto. A incerteza nos domina, e em nome dela cometemos os erros básicos, mais tarde taxados de imaturos. Assim, perdemos o nosso “animal spirit”, nosso ímpeto a arriscar que nos leva ao crescimento e nos traz novas perspectivas.
Ficam então para trás, as promessas, o sonho de um amanhecer juntos, a vontade de olhar um para o outro sem dizer nada, a alegria de fazer piadas sem graça, o desejo incessante de receber o sms de bom dia, o de boa tarde e, conseqüentemente, o de boa noite, a possibilidade de receber aquela ligação quando menos se espera, o frio na barriga do cinema em que se abraça no escuro. Tudo se esfacela, viram apenas promessas que a memória agora se esforça para encontrar manter.
Então, em meio a essa miscelânea de sentimentos que voltam com a ventania, algo se sobressai, um dizer, um comentário sobre um antigo post desse blog: ”Nunca me escreveram algo tão lindo assim”. Talvez você tenha tido a sua chance, e a tenha jogado pela janela, enrolado em um saco de lixo, com tudo que agora lhe é inconveniente.
Mas talvez ainda exista espaço para algo belo, algo admirável, que emule o arrepio que sentiste com a beleza do que foi dito a outra pessoa em um momento diferente:
– Se me fosse dada a oportunidade de voltar atrás, até aquele puff aonde jazíamos abraçados na manhã de sábado, eu faria tudo de novo, da mesma forma e em cada detalhe, pois sei que não errei, não, dessa vez fui suficiente... e tenho minha paz de espírito.
Nos dizeres do jovem advogado: Teria sido esse o final de algo que nem deveria ter sido tratado como um começo?
Só a calmaria do fim dessa tormenta trará a resposta, por enquanto limitemo-nos a fitar o horizonte que expurga o dia em favor da noite.

(Dedico esse post a Patricia R., Erika, Sarah e Cândida, Lucas, Aluisio, dentre outros...mais cedo do que imaginam terão com vocês minhas piadas, sorrisos, e ironias que tanto os agradam).

Wednesday, July 02, 2008

Um Sentido...

A hand above the water
An angel reaching for the sky
Is it raining in heaven
-Do you want us to cry?

And everywhere the broken-hearted
On every lonely avenue
No-one could reach them
No-one but you

One by one
Only the Good die young
They're only flying too close to the sun
And life goes on
-Without you...



Somos desesperados pelo sucesso...É fato, todo ser humano (por mais simples que seja) sempre sonha com algo (mesmo que de forma acanhada) que lhe faça sentir bem, trazendo a esperança de um dia alcançá-lo. Esse é o combustível que o move diariamente, que o da a energia que se necessita para sair da cama, de agüentar o frio das manhãs e enfrentar o primeiro raio de sol que faz as pálpebras se recostarem.
Mas o que sente um desses humanos quando alcança seu sonho, não no exato momento (pois todos devemos imaginar o sentimento da satisfação), mas depois, quando no seu leito de morte, revisa seu passado, e conclui que conseguiu...foi feliz. Do seu modo, com seus medos, com sua família, com suas restrições.
Como é? Conhecer um alguém, lutar ao lado dele, fazer da luta diária uma família, do pão nosso o pão de todos, do “envelhecer” um respeito que se manifesta todo o dia, e da perda como algo com que se conviver?
Como é? Ver o filho nascer, ver o seu sorriso espelhado no rosto dele, vê-lo casar, gerar frutos, se formar, ser bem sucedido, repetir seus acertos, cometer os mesmos erros (os quais você dividiria a experiência passada), chorar?
Nunca saberemos, pois fomos pequenos demais para percebermos a grandeza dessas felicidades tão pequenas...Coisas que só os antigos sabem dar valor, e nós somente aprendemos quando nos tornamos antigos...
Que os frutos dos seus frutos sabiam que foste feliz, que viveste uma vida toda de pequenas felicidades, e que eles foram a maior que tiveste. E que para eles, foste a alegria e a lembrança do melhor momento de suas vidas, aquele no qual os sonhos se formam...

Thursday, May 29, 2008

Sunday, February 10, 2008

“O casamento da Virgem” (1504)


A base contextual e cultural em que se inspiraram as obras de Rafael, Leonardo Da Vinci, e Michelangelo, data do período denominado Renascimento Fiorentino, por volta do início do século XV. Muitos estudiosos consideram que o renascimento da arte ocorreu graças a um rompimento com os padrões artísticos vigentes no período – os quais já haviam sido parcialmente rompidos com a arte de Giotto – e muito desse rompimento e criação de um novo conceito de arte podia ser observado na obra de Ghilberti, a porta da Catedral de Santa Maria Del Fiori em Florença, a qual representava com extremada exuberância e realismo figuras cristãs.[1]
O renascentismo recebera tal nome, pois representava o ressurgimento da grandeza dos antigos, uma espécie de renascença da “grandeza romana”, e da beleza escultural grega, os quais viam-se obscuros pela denominada “idade média” anterior. Os maiores expoentes da arte florentina – cidade berço dos grandes artistas da época – foram; Leon Battista Alberti e Filippo Brunelleschi na arquitetura – este último com a construção da abóbada da Catedral de Florença (1436) – e os estudos de perspectiva, no que tange a pintura; Florença tinha ainda, Michelangelo, Leonardo e Rafael, como grandes nomes da pintura, e no caso desse primeiro, também na escultura.
Nesse mesmo período, Alberti escreve o considerado primeiro tratado sobre pintura, esboçando regras e estudos de perspectivas que influenciaria as contemporâneas e posteriores gerações de artistas. Alberti, através da arte matemática, passa a elaborar cálculos sobre a perspectiva e disposição de figuras no espaço, e a geometria dos objetos – geometria que embutia a idéia de superação dos antigos pelos modernos através da condução racional da matéria – os quais rompiam com a idéia de “espaço místico” do bizantino, objetivando a representação mais aproximada da realidade. Assim, o autor elabora conceitos tais como, a idéia de “ponto de fuga”, o qual seria o ponto central do quadro, onde todos os outros pontos convergiam; a “linha do horizonte”, que estabelecia o limite entre planos frontais e de fundo; e as “linhas de fuga”, as quais criariam uma espécie de “palco” no qual todas as figuras ficariam dispostas, assim, quanto mais próximas do ponto de fuga e da linha do horizonte, menor seria o objeto, dando a impressão de distância.
Algumas das pinturas de Rafael, e de seu mestre, Perugino sofreram influencia da forma de pensamento e das técnicas esboçadas inicialmente por Alberti, dentre essas, “Aparição da Virgem a São Bernardo” (1494) e “Esponsais da Virgem”, ambos de Perugino, além de uma das mais famosas pinturas de Rafael, “O casamento da Virgem” (1504). Todas essas obras fazem uso da perspectiva espacial, além do livre jogo entre luz e sombra, aproximando ao máximo a obra de um realismo antes jamais visto.
Atemo-nos agora à obra de Rafael, mais especificamente à obra citada acima “O Casamento da Virgem”, a qual mais se adapta ao contexto artístico e filosófico do período em questão. Esse painel fora encomendado pela família Albizzini para a capela de São Jose, na igreja de São Francisco das Minorias na “Cittá di Castello”, posteriormente, após varias transações, entre oficiais napoleônicos e negociadores de artes, fora adquirida pela Academia de Finas Artes, em Brera no século XIX. Rafael se inspirou grandemente na obra de seu mestre Perugino, “Esponsais da Virgem”, e de certo modo nos padrões de Alberti, para a idealização e realização desta obra.
Observamos na obra, o imponente templo bramantino – semelhante ao templo de São Pedro no Montório, construído por Bramante – coincidindo com o centro ideal, denominado doravante por ponto de fuga, pelo qual atravessa uma linha horizontal que separa o plano de fundo do plano frontal, e juntamente com as rotas de fuga facilmente perceptíveis, permite a livre disposição das figuras menores e as maiores, as quais representam o elenco do matrimônio. Nesse plano, José coloca o anel na mão da Virgem, arbitrado por um sacerdote que conduz a solenidade, em sua mão esquerda, ele segura um a espécie de cajado com flores na haste, o que segundo muitos especialistas demonstra a sua divindade e unicidade, pois os demais cajados permanecem não florescidos. Alguns dos “súditos” que acompanham José permanecem sérios, enquanto um deles quebra o seu cajado, como num momento de fúria.
È de fácil percepção algumas das características peculiares do momento renascentista, como a representação de momentos cristãos, além de características estilísticas de Rafael nessa obra, dentre elas a utilização primordial das três cores primarias – o vermelho, o azul e o amarelo – para a composição das vestes das personagens e do fundo. A cor predominante é o dourado, compondo o templo e o pavimento, no qual as figuras do primeiro plano estão, a partir do anel de José, dispostas igualitariamente de cada lado – algumas dessas personagens inclusive com características andrógenas – e as figuras do segundo plano, conforme se aproximam do ponto de fuga se tornam menores, dando a impressão de distancia real. A porta ao fundo do templo, aberta, e exibindo o fundo azul – fundo esse que utiliza com primor a técnica do “sfumato” de Da Vinci – possibilita a compreensão de uma passagem de fundo que de certa forma justifica a construção de um espaço, intentada por Rafael.
Por fim, observamos algumas das características de Rafael na pintura, como a “triangularização” entre a Virgem, o Sacerdote e José, entendida nesse período como um simbolismo da “santíssima trindade”, além disso, observamos a leveza do traço de Rafael, compondo figuras relativamente jovens e bastante expressivas, e com movimento, isso aliado ao livre dialogo entre luz e sombra proposto por Rafael permite a composição do volume e textura das personagens e dos objetos na pintura. Ademais, Rafael assina a obra no topo do templo; Raphael Urbinas MDIIII.
A esse ponto, a comparação entre as obras de Perugino e de Rafael é imprescindível, principalmente os respectivos “Esponsais da Virgem” e “O Casamento da Virgem”. A primeira característica observada nas pinturas de Rafael é o desenvolvimento circular, em relação ao horizontalismo quatrocentista de Perugino. Observamos um espaço mais aberto na obra de Rafael, o que indica um comando superior de perspectiva em relação a obra de seu mestre.
É de suma importância contextualizar o período em que Rafael pinta as suas obras, marcado por fatos tais como, o descobrimento da América, e o Cisma da Igreja Católica, que culminou, por exemplo, no Anglicanismo inglês. Nesse período ainda havia uma divinização da imagem, logo grande parte das obras nesse período era encomendada por famílias importantes da época, abrindo espaço para a estruturação da obra. Por esse motivo, há a predominância da idéia que, toda obra de arte contém uma forma de pensamento, e diferentemente das obras bizantinas – muitas de função didática – as obras atuais têm um conteúdo maior de informação e simbolismos, estes que somente poderiam ser entendidos por uma gama intelectualizada de expectadores.
A esse movimento, denomina-se “hermetismo”, ou seja, somente um circulo fechado de pessoas poderia entender a obra, a obra deveria ser fonte de conhecimento, e estimular o pensamento crítico. Muitas das obras desse período, como “O nascimento de Vênus” de Boticcelli, carregados de pensamentos humanistas maquiados por meio de signos, possibilitavam apenas uma gama menor da população entende-los. Nesse ponto, as obras de Rafael e de Boticcelli se encontram, não por carregarem pensamentos humanistas – o que realmente não ocorre eventualmente nas obras de Rafael – mas sim devido há um certo simbolismo de caráter hermetista implícito na obra de Rafael, como por exemplo, o cajado florido de José no “Casamento da Virgem”, indicando a sua divindade em relação aos demais personagens.

[1] Um outro exemplo da arte renascentista desse período seria a “porta do inferno” de Rhodan, baseada na Obra de Dante Alighieri, “A divina Comédia”.

Wednesday, February 06, 2008

Está Chovendo, e acabou o Carnaval!

Acabou o carnaval. Como de costume chove demais na região, e não se pode nem dizer que sobraram as serpentinas e os confetes, os quais, biodegradáveis, já se dissiparam na fúria das rajadas vindas do céu. Talvez a Chuva seja uma forma de apagar tudo o que aconteceu nesses dias de festas, os erros, os acertos, a farra, as mancadas, os “amores”...
Todavia a Chuva não apagou algo que sempre seguia impermeabilizado dentro de mim, algo que provavelmente se encontrava enterrado em meio a um amontoado de emoções (dessas que se assemelham a preocupações, frustrações, e medos advindos de experiências negativas) advindos das responsabilidades que o tempo lhe outorga. Na realidade o carnaval foi um momento, e talvez uma justificativa para que esse sentimento escondido fosse trazido a tona.
Na realidade eu planejava escrever sobre a minha viagem, as contradições, as belezas ali encontradas. Mas nem nos mais belos palácios de Buenos Aires eu consegui encontrar maior beleza que a dos seus olhos (meio sérios em certos momentos, carinhosos e “suficientes” em outros, mas sempre necessários), nem nas praças mais bem edificada da cidade era possível encontrar uma sinuosidade tão perfeita quanto as curvas do seu corpo, tampouco uma delicadeza maior do que a do seu rosto pálido e sorridente se recostando sobre meu ombro ao final da noite.
Talvez eu não devesse ter cometido os erros que cometi, não sei se nesse curto momento consegui me expressar da forma como deveria...afinal por que esse sentimento se expressa fisicamente como uma espécie de bola que sobe e desce na boca do estômago? Explico o porque da minha confusão rapidamente: a mais de dois anos não sentia isso... e o retorno a esse sentimento não foi uma surpresa, pois a confusão seria certa ao considerar o nosso relativo distanciamento por esse período. Mas bastou um só toque, um abraço, um sorriso trocado para relembrar a antiga sensação de proteção e conforto vivida anteriormente. A confusão piora se não sei se o mesmo ocorre com ela...
Já passei por diversas situações, nunca por essa... não sei o que devo dizer, mas tenho milhares de coisas para lhe dizer; ou se devo agir racionalmente, deixando de lado a montanha de sentimentos que me dominam, mas sei que tem várias coisas que gostaria de fazer....
Se pudesse pedir algo, pediria novamente aquela lua de janeiro...
Nesse momento a tomaria de volta em meus braços, da mesma forma...
E se fosse questionado se ainda a amava, responderia sem pestanejar:
- O Suficiente... para te fazer feliz...o suficiente para nunca mais errar!

Wednesday, October 24, 2007

Meio intelectual, meio de esquerda

De Antonio Prata.

Eu sou meio intelectual, meio de esquerda, por isso freqüento bares meio ruins. Não sei se você sabe, mas nós, meio intelectuais, meio de esquerda, nos julgamos a vanguarda do proletariado, há mais de 150 anos. (Deve ter alguma coisa de errado com uma vanguarda de mais de 150 anos, mas tudo bem). No bar ruim que ando freqüentando nas últimas semanas o proletariado é o Betão, garçom, que cumprimento com um tapinha nas costas acreditando resolver aí 500 anos de história. Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos ficar "amigos" do garçom, com quem falamos sobre futebol enquanto nossos amigos não chegam para falarmos de literatura. "Ô Betão, traz mais uma pra gente", eu digo, com os cotovelos apoiados na mesa bamba de lata, e me sinto parte do Brasil. Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos fazer parte do Brasil, por isso vamos a bares ruins,que tem mais a cara do Brasil que os bares bons, onde se serve petit gateau e não tem frango à passarinho ou carne de sol com macaxeira que são os pratos tradicionais de nossa cozinha. Se bem que nós, meio intelectuais, quando convidamos uma moça para sair pela primeira vez, atacamos mais de petit gateau do que de frango à passarinho, porque a gente gosta do Brasil e tal, mas na hora do vamos ver uma europazinha bem que ajuda. A gente gosta do Brasil, mas muito bem diagramado. Não é qualquer Brasil. Assim como não é qualquer bar ruim. Tem que ser um bar ruim autêntico, um boteco, com mesa de lata, copo americano e, se tiver porção de carne de sol, a gente bate uma punheta ali mesmo.Quando um de nós, meio intelectuais, meio de esquerda, descobre um novo bar ruim que nenhum outro meio intelectual, meio de esquerda freqüenta, não nos contemos: ligamos pra turma inteira de meio intelectuais, meio de esquerda e decretamos que aquele lá é o nosso novo bar ruim. Porque a gente acha que o bar ruim é autêntico e o bar bom não é, como eu já disse. O problema é que aos poucos o bar ruim vai se tornando cult, vai sendo freqüentado por vários meio intelectuais, meio de esquerda e universitárias mais ou menos gostosas. Até que uma hora sai na Vejinha como ponto freqüentado por artistas, cineastas e universitários e nesse ponto a gente já se sente incomodado e quando chega no bar ruim e tá cheio de gente que não é nem meio intelectual, nem meio de esquerda e foi lá para ver se tem mesmo artistas, cineastas e universitários, a gente diz: eu gostava disso aqui antes, quando só vinha a minha turma de meio intelectuais, meio de esquerda, as universitárias mais ou menos gostosas e uns velhos bêbados que jogavam dominó. Porque nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos dizer que freqüentávamos o bar antes de ele ficar famoso, íamos a tal praia antes de ela encher de gente, ouvíamos a banda antes de tocar na MTV. Nós gostamos dos pobres que estavam na praia antes, uns pobres que sabem subir em coqueiro e usam sandália de couro, isso a gente acha lindo, mas a gente detesta os pobres que chegam depois, de Chevete e chinelo Rider. Esse pobre não, a gente gosta do pobre autêntico, do Brasil autêntico. E a gente abomina a Vejinha, abomina mesmo, acima de tudo. Os donos dos bares ruins que a gente freqüenta se dividem em dois tipos: os que entendem a gente e os que não entendem. Os que entendem percebem qual é a nossa, mantém o bar autenticamente ruim, chamam uns primos do cunhado para tocar samba de roda toda sexta-feira, introduzem bolinho de bacalhau no cardápio e aumentam em 50% o preço de tudo. Eles sacam que nós, meio intelectuais, meio de esquerda, somos meio bem de vida e nos dispomos a pagar caro por aquilo que tem cara de barato. Os donos que não entendem qual é a nossa, diante da invasão, trocam as mesas de lata por umas de fórmica imitando mármore, azulejam a parede e põem um som estéreo tocando reggae. Aí eles se fodem, porque a gente odeia isso, a gente gosta, como já disse algumas vezes, é daquela coisa autêntica, tão brasileira, tão raiz. Não pense que é fácil ser meio intelectual, meio de esquerda, no Brasil! Ainda mais porque a cada dia está mais difícil encontrar bares ruins do jeito que a gente gosta, os pobres estão todos de chinelo Rider e a Vejinha sempre alerta, pronta para encher nossos bares ruins de gente jovem e bonita e a difundir o petit gateau pelos quatro cantos do globo. Para desespero dos meio intelectuais, meio de esquerda, como eu que, por questões ideológicas, preferem frango à passarinho e carne de sol com macaxeira (que é a mesma coisa que mandioca mas é como se diz lá no Nordeste e nós, meio intelectuais, meio de esquerda, achamos que o Nordeste é muito mais autêntico que o Sudeste e preferimos esse termo, macaxeira, que é mais assim, Câmara Cascudo, saca?).
- Ô Betão, vê um cachaça aqui pra mim. De Salinas quais que tem?

Friday, October 19, 2007

Um minuto de Ira em dias de reflexão


Permitam-me parar com esse processo passivo de aceitação, em realidade, permitam-se em não aceitar tudo que lhes é fornecido de forma recortada para uma rápida assimilação da idéia alheia. Passei por breves momentos de reflexão e responsabilidade que não me permitiram continuar com os devaneios neste espaço chato, porém uma asía incontrolável ocupou meu estômago ao ler me deparar com uma manchete em uma já conhecida revista de circulação nacional. Nesta, Che Guevara – esse tal revolucionário que nos vem a mente quando pensamos em Bolívia, Cuba, em petistas, ou pessoas alternativas – era claramente denominado como um farsante por céticos que alegam o conhecimento da sua real história.
Resolvi então ler a reportagem. A cada página folheada, pérolas e mais pérolas se encontravam impressas nesse que intentava ser um artigo definitivo na destruição do mito do argentino rebelde. Como um exemplo, cito as imagens expostas de Guevara ora esfarrapado e sujo, após a sua captura por soldados bolivianos e membros da CIA, ora morto e maltrapilho, sendo exposto pelos mesmos, como um caçador exibe seu troféu com orgulho. Pode se citar também frases expostas na reportagem que colocam o cubano como um homem que teme a morte na sua eminência – diferentemente de todo homem, é claro.
O objetivo dessas fotos, como de toda reportagem é destruir a imagem mística do revolucionário, expondo fotos e afirmações constrangedoras deste, como se dessa forma sinalizassem para a massa inculta e rebelde que o aclama, a mortalidade e humanidade do deus vermelho. Ora, os redatores demoraram décadas para perceber que Che não era um espírito errante, mas sim um humano com um ciclo fisiológico comum? E o pior, apostaram na difamação do ídolo como forma de elimina-lo do ideário dos mais jovens “comunistas”, fazendo questão ainda de lembrar os leitores de que como Che, o comunismo também acabou na década de 80. (Muito obrigado pela lembrança, mas vale recordar que, todo tipo de ideologia contrária ao capitalismo também desapareceu, e a muito tempo antes da década de 80).
Se o objetivo era desmistificar, os editores cometeram um ledo engano. O que faz um Deus, ou um ídolo não são somente suas ações e lendas em torno da sua figura, mas a própria incerteza quanto a veracidade de suas ações, que propriamente se tornam lendas. Isto é, ao se reproduzir fatos sobre Che, apoiados no discurso de pessoas que viveram o momento, o que se cria é um burbúrio é um consenso de que este não foi um mártir dos ideais comunistas na época, mas ainda o é, posto que sua imagem ainda é motivo de preocupação para a mídia extremista e conservadora.
Não me entendam aqui como um comunista revoltado, ou como um conservador dando o receituário para os críticos direitistas, somente acredito que a revista divulgadora da reportagem, já conhecida pelas bobagens publicadas, endureceu e perdeu a ternura, fazendo um ataque baixo e amador às bases do que considera esquerda, e ao faze-lo deixou claro que ainda acredita na existência do temeroso comunismo. A minha mais sincera opinião versa sobre a morte do comunista revolucionário, e de seus ideais, no exato momento que a sua imagem se torna alvo especulação capitalista, se tornando uma mercadoria de nicho e mercado pré-definidos, dando asas a marcha capitalista. Fica claro que, nesse sistema o endurecimento somente serve para vender a ternura , sendo esta consumida por todos de uma forma alienada... conspícua.