Um espaço onde se promete uma análise sobre tudo, mas não se garante a diversão imediata!!!

Wednesday, October 24, 2007

Meio intelectual, meio de esquerda

De Antonio Prata.

Eu sou meio intelectual, meio de esquerda, por isso freqüento bares meio ruins. Não sei se você sabe, mas nós, meio intelectuais, meio de esquerda, nos julgamos a vanguarda do proletariado, há mais de 150 anos. (Deve ter alguma coisa de errado com uma vanguarda de mais de 150 anos, mas tudo bem). No bar ruim que ando freqüentando nas últimas semanas o proletariado é o Betão, garçom, que cumprimento com um tapinha nas costas acreditando resolver aí 500 anos de história. Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos ficar "amigos" do garçom, com quem falamos sobre futebol enquanto nossos amigos não chegam para falarmos de literatura. "Ô Betão, traz mais uma pra gente", eu digo, com os cotovelos apoiados na mesa bamba de lata, e me sinto parte do Brasil. Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos fazer parte do Brasil, por isso vamos a bares ruins,que tem mais a cara do Brasil que os bares bons, onde se serve petit gateau e não tem frango à passarinho ou carne de sol com macaxeira que são os pratos tradicionais de nossa cozinha. Se bem que nós, meio intelectuais, quando convidamos uma moça para sair pela primeira vez, atacamos mais de petit gateau do que de frango à passarinho, porque a gente gosta do Brasil e tal, mas na hora do vamos ver uma europazinha bem que ajuda. A gente gosta do Brasil, mas muito bem diagramado. Não é qualquer Brasil. Assim como não é qualquer bar ruim. Tem que ser um bar ruim autêntico, um boteco, com mesa de lata, copo americano e, se tiver porção de carne de sol, a gente bate uma punheta ali mesmo.Quando um de nós, meio intelectuais, meio de esquerda, descobre um novo bar ruim que nenhum outro meio intelectual, meio de esquerda freqüenta, não nos contemos: ligamos pra turma inteira de meio intelectuais, meio de esquerda e decretamos que aquele lá é o nosso novo bar ruim. Porque a gente acha que o bar ruim é autêntico e o bar bom não é, como eu já disse. O problema é que aos poucos o bar ruim vai se tornando cult, vai sendo freqüentado por vários meio intelectuais, meio de esquerda e universitárias mais ou menos gostosas. Até que uma hora sai na Vejinha como ponto freqüentado por artistas, cineastas e universitários e nesse ponto a gente já se sente incomodado e quando chega no bar ruim e tá cheio de gente que não é nem meio intelectual, nem meio de esquerda e foi lá para ver se tem mesmo artistas, cineastas e universitários, a gente diz: eu gostava disso aqui antes, quando só vinha a minha turma de meio intelectuais, meio de esquerda, as universitárias mais ou menos gostosas e uns velhos bêbados que jogavam dominó. Porque nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos dizer que freqüentávamos o bar antes de ele ficar famoso, íamos a tal praia antes de ela encher de gente, ouvíamos a banda antes de tocar na MTV. Nós gostamos dos pobres que estavam na praia antes, uns pobres que sabem subir em coqueiro e usam sandália de couro, isso a gente acha lindo, mas a gente detesta os pobres que chegam depois, de Chevete e chinelo Rider. Esse pobre não, a gente gosta do pobre autêntico, do Brasil autêntico. E a gente abomina a Vejinha, abomina mesmo, acima de tudo. Os donos dos bares ruins que a gente freqüenta se dividem em dois tipos: os que entendem a gente e os que não entendem. Os que entendem percebem qual é a nossa, mantém o bar autenticamente ruim, chamam uns primos do cunhado para tocar samba de roda toda sexta-feira, introduzem bolinho de bacalhau no cardápio e aumentam em 50% o preço de tudo. Eles sacam que nós, meio intelectuais, meio de esquerda, somos meio bem de vida e nos dispomos a pagar caro por aquilo que tem cara de barato. Os donos que não entendem qual é a nossa, diante da invasão, trocam as mesas de lata por umas de fórmica imitando mármore, azulejam a parede e põem um som estéreo tocando reggae. Aí eles se fodem, porque a gente odeia isso, a gente gosta, como já disse algumas vezes, é daquela coisa autêntica, tão brasileira, tão raiz. Não pense que é fácil ser meio intelectual, meio de esquerda, no Brasil! Ainda mais porque a cada dia está mais difícil encontrar bares ruins do jeito que a gente gosta, os pobres estão todos de chinelo Rider e a Vejinha sempre alerta, pronta para encher nossos bares ruins de gente jovem e bonita e a difundir o petit gateau pelos quatro cantos do globo. Para desespero dos meio intelectuais, meio de esquerda, como eu que, por questões ideológicas, preferem frango à passarinho e carne de sol com macaxeira (que é a mesma coisa que mandioca mas é como se diz lá no Nordeste e nós, meio intelectuais, meio de esquerda, achamos que o Nordeste é muito mais autêntico que o Sudeste e preferimos esse termo, macaxeira, que é mais assim, Câmara Cascudo, saca?).
- Ô Betão, vê um cachaça aqui pra mim. De Salinas quais que tem?

Friday, October 19, 2007

Um minuto de Ira em dias de reflexão


Permitam-me parar com esse processo passivo de aceitação, em realidade, permitam-se em não aceitar tudo que lhes é fornecido de forma recortada para uma rápida assimilação da idéia alheia. Passei por breves momentos de reflexão e responsabilidade que não me permitiram continuar com os devaneios neste espaço chato, porém uma asía incontrolável ocupou meu estômago ao ler me deparar com uma manchete em uma já conhecida revista de circulação nacional. Nesta, Che Guevara – esse tal revolucionário que nos vem a mente quando pensamos em Bolívia, Cuba, em petistas, ou pessoas alternativas – era claramente denominado como um farsante por céticos que alegam o conhecimento da sua real história.
Resolvi então ler a reportagem. A cada página folheada, pérolas e mais pérolas se encontravam impressas nesse que intentava ser um artigo definitivo na destruição do mito do argentino rebelde. Como um exemplo, cito as imagens expostas de Guevara ora esfarrapado e sujo, após a sua captura por soldados bolivianos e membros da CIA, ora morto e maltrapilho, sendo exposto pelos mesmos, como um caçador exibe seu troféu com orgulho. Pode se citar também frases expostas na reportagem que colocam o cubano como um homem que teme a morte na sua eminência – diferentemente de todo homem, é claro.
O objetivo dessas fotos, como de toda reportagem é destruir a imagem mística do revolucionário, expondo fotos e afirmações constrangedoras deste, como se dessa forma sinalizassem para a massa inculta e rebelde que o aclama, a mortalidade e humanidade do deus vermelho. Ora, os redatores demoraram décadas para perceber que Che não era um espírito errante, mas sim um humano com um ciclo fisiológico comum? E o pior, apostaram na difamação do ídolo como forma de elimina-lo do ideário dos mais jovens “comunistas”, fazendo questão ainda de lembrar os leitores de que como Che, o comunismo também acabou na década de 80. (Muito obrigado pela lembrança, mas vale recordar que, todo tipo de ideologia contrária ao capitalismo também desapareceu, e a muito tempo antes da década de 80).
Se o objetivo era desmistificar, os editores cometeram um ledo engano. O que faz um Deus, ou um ídolo não são somente suas ações e lendas em torno da sua figura, mas a própria incerteza quanto a veracidade de suas ações, que propriamente se tornam lendas. Isto é, ao se reproduzir fatos sobre Che, apoiados no discurso de pessoas que viveram o momento, o que se cria é um burbúrio é um consenso de que este não foi um mártir dos ideais comunistas na época, mas ainda o é, posto que sua imagem ainda é motivo de preocupação para a mídia extremista e conservadora.
Não me entendam aqui como um comunista revoltado, ou como um conservador dando o receituário para os críticos direitistas, somente acredito que a revista divulgadora da reportagem, já conhecida pelas bobagens publicadas, endureceu e perdeu a ternura, fazendo um ataque baixo e amador às bases do que considera esquerda, e ao faze-lo deixou claro que ainda acredita na existência do temeroso comunismo. A minha mais sincera opinião versa sobre a morte do comunista revolucionário, e de seus ideais, no exato momento que a sua imagem se torna alvo especulação capitalista, se tornando uma mercadoria de nicho e mercado pré-definidos, dando asas a marcha capitalista. Fica claro que, nesse sistema o endurecimento somente serve para vender a ternura , sendo esta consumida por todos de uma forma alienada... conspícua.